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MATRIZES BRASILEIRAS

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“Felicidade do Brasil está em sua diversidade”

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Indígena Daniel Munduruku enaltece os Brasis, critica a valorização apenas do europeu e fala da importância de uma teia tecida por diferentes povos pertencentes a uma mesma nação

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[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Conhecer as histórias dos antepassados, práticas e costumes antigos e presentes, já que a cultura não é estática, auxilia na compreensão do que é ser brasileiro, possibilitando um sentimento de pertencimento, acredita Daniel Munduruku, indígena, professor e escritor com 55 livros publicados, tendo dois prêmios Jabuti. Contudo, Munduruku afirma que grande parte da população brasileira não possui esse sentimento de pertencimento porque não valoriza suas origens. “Nesse sentido, somos um povo sem identidade. Embora dentro de nós tenhamos mais de uma matriz, aprendemos a valorizar a europeia. Hoje em dia o movimento é mais forte, mas durante muito tempo acabamos negando”, critica.

O indígena, que é doutor em educação e pós- -doutor em linguística, coloca a escola como um aparelho ideológico que transmitia – e em alguns casos ainda transmite – essas negações ancestrais. Porém, ele não culpa a instituição escolar em si, porque sabe que ela apenas reproduz a história contada por uma mão única.

E o que acontece quando a cultura indígena (guarani, pataxó…), europeia (portuguesa, italiana…), africana (bantu, sudanesa…) e oriental (japonesa…), que constituem o povo brasileiro, são acolhidas, sem desprezo? Segundo Munduruku, a sociedade fica feliz. “O Brasil tem vocação para a felicidade. A felicidade do Brasil está em sua diversidade, porém aprendemos a não gostar da diversidade e valorizamos apenas uns 10% do que a gente tem de estrangeiro e o restante negamos. Mas a riqueza do brasileiro se constitui exatamente pelo fato de sermos diversos, diversos no sentido da diversidade, mas também do simbólico, diverso no sentido do verso, do verso único, universo, que nós somos, e que aprendemos a não gostar, infelizmente. Se descobrirmos essa diversidade dentro da gente e a valorizarmos, ninguém segura a gente, ninguém segura o Brasil e eu acredito muito nisso, nesse caminho.”

A cultura festiva, o jongo, a capoeira, o deitar na rede, o açaí, o chimarrão, descreve Daniel, são alguns exemplos do que significa ser brasileiro. Tapioca e Guaratinguetá, a saber, são palavras de origem tupi que fazem parte do dia a dia da população sem que se dê conta. “Por isso a língua brasileira é tão difícil para os estrangeiros. A língua portuguesa, de Portugal, é fácil, objetiva, porque é fruto de um único povo que se constituiu na Península Ibérica. No caso do Brasil, o povo vai se constituir de muitas línguas diferentes e centenas de línguas indígenas, centenas de línguas africanas trazidas para cá, línguas europeias, e até orientais e o Brasil vai se estabelecendo justamente com esse diferencial. A nossa língua é riquíssima, poderosa, com sonoridade diversa pelas regiões do Brasil e que permite que a gente tenha essa noção de sermos um povo novo, como diz Darcy Ribeiro, diferente. Eu acho isso a coisa mais linda do mundo. Sou apaixonado pela cultura brasileira exatamente nessa dimensão que ela possui. Sem essa diversidade a gente se torna um país como outro qualquer e é isso que não podemos permitir que aconteça”, pontua.

 

PEDAGOGIAS DO BRASIL

 

Estima-se que por volta de 1500 havia pouco mais de 3 milhões de indígenas na região hoje chamada Brasil divididos em cerca de 1.000 etnias. Já o último Censo, de 2010, aponta para 896.917 indígenas, 305 etnias e 274 línguas. Houve e ainda há um indiocídio.

Mesmo com tantas injustiças e inúmeros desafios para os povos tradicionais, e aqui se incluem todos e todas, como indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco, fundo e fecho de pasto, Daniel Munduruku, aos 57 anos, é esperançoso. Com semblante tranquilo e sorriso no rosto, parafraseia Chico Buarque: esta terra ainda vai cumprir seu ideal. “Esse ideal é justamente se tornar uma terra nossa, a terra prometida que vai fazer com que a gente se realize de forma mais ampliada. Há muitas coisas e ideias, precisamos construir a nossa identidade a partir de uma pedagogia nossa, o que Darcy Ribeiro e Leonel Brizola chamavam de socialismo moreno, uma coisa que nasceria de nós para nós mesmos; como Paulo Freire tentou fazer. Nós para nós mesmos é pensar o Brasil pela sua própria pedagogia e que os indígenas já têm, como a pedagogia do bem viver, pedagogia do pertencimento, pedagogia do parente, de cuidar um do outro e não deixar ninguém para trás. Eu acho que isso seria fantástico”, ressalta.

Recentemente, o nome de Daniel Munduruku ganhou ainda mais força nacional por conta de uma carta de apoio para ele receber a cadeira 12 na Academia Brasileira de Letras (ABL) assinada por Chico Buarque, Itamar Vieira Jr., Pedro Bandeira, Ruth Rocha, Alice Ruiz, Ailton Krenak, dentre outros. Contudo, o renomado médico Paulo Niemeyer Filho acabou sendo eleito.

Sobre políticas afirmativas, ele as enxerga como necessárias para ajudar o Brasil na constituição de uma sociedade plural. Vale ressaltar que em 2021, pela primeira vez na história da USP (Universidade de São Paulo), o número de matrículas de estudantes oriundos da rede pública foi maior do que o da particular, 51,7%, dentre eles, 44,1% autodeclarados pretos, pardos e indígenas – resultado de vagas destinadas a esse público.

Para Daniel, há um dever de esperança porque o Brasil tem uma vocação para a felicidade. “Essa felicidade é aceitar que não podemos deixar ninguém para trás. Precisamos tomar conta uns dos outros, por isso precisamos construir a pedagogia do parente, e apesar da diferença o parente está junto, é solidário. O Brasil tem muito mais qualidade que defeitos, no entanto aprendemos a valorizar os defeitos em vez das qualidades porque isso faz parte do discurso de negação que a vida inteira fomos ouvindo”, aconselha.

“Todas as matrizes que nos formam precisam ser conhecidas, consideradas e estudadas e não podem virar discurso identitário no sentido: sou feminista, sou indígena, e virar discurso de guetos, grupos. Precisamos fazer essa discussão como um todo, como uma grande teia e a teia tem todos os seus fios ligados entre si, aliás, a teia é formada por um único fio que a aranha vai produzindo. Eu diria que o Brasil é uma teia e precisamos valorizar esse fio, precisamos fazer crescer o nosso pertencimento a esse lugar”, conclui. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]