[vc_row][vc_column][vc_empty_space][vc_column_text]

EDUCAÇÃO INFANTIL

[/vc_column_text][vc_separator color=”custom” accent_color=”#e61877″][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_single_image image=”7009″ img_size=”full”][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

ESPAÇO PARA A IMAGINAÇÃO

[/vc_column_text][vc_column_text]


A PRIMEIRA INFÂNCIA É UM PERÍODO DE GRANDE PLASTICIDADE CEREBRAL E DE FORMAÇÃO DA CRIANÇA PEQUENA COMO SER DE CULTURA. ASSIM, É UMA FASE IDEAL PARA INVESTIR TEMPO EM ATIVIDADES QUE TENHAM A IMAGINAÇÃO E A FUNÇÃO SIMBÓLICA COMO EIXOS CURRICULARES.

[/vc_column_text][vc_column_text]


Por Elvira Souza Lima

[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]


Os estudos mais recentes da neurociência sobre imaginação têm trazido informações importantes para a educação escolar, principalmente sobre o papel do professor em estimular a capacidade imaginativa nas crianças e mudanças curriculares que possam favorecê-la. A ciência mostra que a imaginação não é um aspecto a ser exercitado ocasionalmente, em tarefas específicas, como fazer um desenho ou escrever uma redação. Pelo contrário, imaginar é parte importante do processo de aprendizagem em qualquer área do conhecimento do currículo – é intrínseco à motivação e à regulação da atenção do aluno.


A educação infantil é um período de grande plasticidade cerebral e de formação da criança pequena como ser de cultura. Assim, é uma fase ideal para investir tempo em atividades que tenham a imaginação e a função simbólica como eixos curriculares. Imaginar é abrir possibilidades novas por meio de redes neuronais que se formam pelo pensamento e pela ação, em conjugação com a memória. Podemos usar a imaginação em tarefas corriqueiras do cotidiano, na docência e na aprendizagem na escola, no trabalho, assim como em momentos específicos de criação científica ou artística.


Sempre usamos a imaginação para inovar em algo em nossa ação e em nosso pensamento, ampliando o senso comum segundo o qual a imaginação é uma característica de pessoas altamente criativas, como artistas e cientistas, que se destacam pelas realizações obtidas em suas áreas de atuação. Basta um breve passeio pela arqueologia, pela antropologia e pela história da humanidade para perceber que a evolução humana foi possível graças à capacidade de imaginar e simbolizar, isto é, criar significados por meio de símbolos. A imaginação é componente essencial da simbolização como capacidade de fazer presente aquilo que está ausente e de projetar no futuro ações e seus resultados.


A imaginação funciona estreitamente ligada à memória. Isto é, imaginamos com os conteúdos que temos armazenados em nossa memória através da utilização de técnicas e procedimentos que estão, por sua vez, registrados nela. A base para o funcionamento da imaginação são os elementos contidos na memória, e o próprio funcionamento da imaginação a desenvolve. Através do processo imaginativo, vários elementos da memória são evocados e novas mediações semióticas são realizadas.


Memória e imaginação são continuamente utilizadas na vida cotidiana, principalmente para o planejamento de ações diárias, para a solução de problemas e para os processos de tomada de decisão. Toda aprendizagem envolve a criação de novas memórias ou a ampliação de memórias já existentes. A imaginação, podemos dizer, cria condições para a aprendizagem, enquanto a memória a efetiva.


Uma descoberta da neurociência esclarece os processos internos pelos quais imaginação e memória se relacionam: as áreas do cérebro e os caminhos neuronais mobilizados quando se percebe um objeto são parcialmente os mesmos quando se imagina esse objeto. Em outras palavras, há uma proximidade importante no funcionamento cerebral entre percepção real e a imaginação. O mesmo fenômeno se observa em relação ao movimento: a região do córtex motor acionada quando se move um dedo é aproximadamente a mesma quando se reproduz mentalmente o movimento. Portanto, ao imaginar, o ser humano consolida as aprendizagens.

[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]


FAZ DE CONTA


Como as redes neuronais se formam em função das experiências de cada pessoa, podemos afirmar que os contextos, por sua vez constituídos pela cultura, impactam o desenvolvimento infantil nos primeiros anos de vida. Um acervo considerável de pesquisas sobre o cérebro infantil revela que na verdade atividades culturais da infância desenvolvem várias áreas do cérebro que serão recrutadas para as aprendizagens escolares posteriores a fim de formar novas estruturas, como no caso da escrita, e/ou servir de base ou apoio de outras áreas do currículo.


São as vivências culturais que, desde a infância, promovem o desenvolvimento da imaginação no ser humano. As práticas culturais, como as celebrações e festejos (festas, rituais, representações, encenações musicadas ou não, entre outras), são essencialmente atividades simbólicas de grande importância na formação da pessoa e dos grupos sociais.


As práticas culturais da infância são particularmente importantes, pois têm a função de formar estruturas na memória da criança, bem como, por meio do exercício da função simbólica e da imaginação, acumular acervos de memória necessários para sua formação como ser de cultura, sua identidade e sua inserção no meio social.


Para formar acervos de memória, a criança pequena precisa ter a oportunidade de vivenciar, experimentar, explorar o meio e interagir com os outros. Brincar propicia isso. Além de proporcionar prazer e alegria, brincar tem um impacto importante no cérebro infantil, segundo a neurociência. Muitas brincadeiras são verdadeiros exercícios
imaginativos. Entre as brincadeiras que motivam muito a criança pequena, está o faz de conta.


A brincadeira de faz de conta, chamada em várias línguas de jogo de imaginação, é uma das formas de atividade na infância mais eficazes na formação e manutenção de atenção. Imaginar atua diretamente na capacidade de focar e concentrar-se. Vejamos um exemplo: uma criança de 4 anos reluta em ficar um minuto parada em pé, quieta, porém, se a ela for dado um “papel”, a função de ser um soldado guardando o castelo, ela reproduzirá a postura do personagem e permanece pelo menos alguns minutos. Isso mostra como imaginar regula e forma comportamentos de atenção.


O exercício da imaginação modifica o tempo de permatividade escolar, conforme demonstra um acervo connsiderável de estudos e pesquisas no campo da antropologia da educação.


Atenção se educa, ou seja, a formação de comportamentos regulados pela atenção é resultado, em grande parte, do desenvolvimento cultural do cérebro, que forma redes neuronais permanentes, integrando os componentes biológicos e culturais do desenvolvimento do cérebro.


Porém, é importante observar que oportunidades e atividades que mobilizam e desenvolvem a imaginação devem se estender durante o processo de maturação do cérebro por toda a infância e juventude. Um cérebro que segue seu processo biológico de maturação dado pela genética da espécie com múltiplas oportunidades, de diversas naturezas, de exercer a imaginação será um cérebro com muitos recursos para a vida adulta. Isso terá um impacto notável na qualidade de vida, na capacidade de reflexão e pensamento e impactará positivamente os processos de tomada de decisão.

[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

[vc_row][vc_column width=”1/1″][vc_column_text]
“BERÇO PARA A CRIATIVIDADE”


Imaginar não é o mesmo que criar algo inédito, novo para a humanidade, como a cura de uma doença, uma obra de arte ou um aparato tecnológico como o exoesqueleto, que permite avançar na conquista de novas possibilidades de movimento de um tetraplégico. Porém, a imaginação é a capacidade humana que conduz à criatividade, ou seja, faz parte do processo criativo realizado pelo cérebro humano. Imaginar pode indicar o caminho.


Nancy Andreasen, neurocientista pioneira nos estudos de cérebro e criatividade nos Estados Unidos, tem se debrUçado sobre a questão de como se organiza e funciona o cérebro criador. Em seu livro Creating brain (Dana Press, 2005), ela discorre detalhadamente sobre os processos criativos no cérebro, destacando a imaginação como recurso necessário para a criatividade.


Eric Kandel, ganhador do Prêmio Nobel em 2000 por suas descobertas sobre os mecanismos de funcionamento das memórias de curta e de longa duração, se dedicou, desde então,a elaborar interessante e complexa análise sobre cérebro e criatividade, tomando como foco Viena em 1900, período de grande ebulição criativa na medicina, filosofia, artes visuais e música. Em seu livro The age of insight (Random House, 2012), ele discorre longamente sobre a capacidade criativa do cérebro humano, não somente de quem produz, mas de quem usufrui os produtos criados. Para o autor, a imaginação é um fator desencadeador do processo criativo.


Ambos argumentam extensivamente sobre a importância do contexto cultural e histórico em que se inserem tanto artistas quanto cientistas que se destacam como mentes criativas. A ideia é que “ninguém produz algo novo a partir somente de si mesmo”. É necessário o que Andreasen chama de “berço para a criatividade”, isto é, certos períodos históricos que, por uma série convergente de fatores, se caracterizam por serem especialmente ricos para a criação humana.


São períodos em que as condições sociais e culturais se encontram em uma sintonia tal que permitem o surgimento do novo. Por exemplo, a Renascença, Paris na segunda metade do século 19 e Viena na passagem para o 20 – exatamente o período que Kandel pesquisou e sobre o qual escreveu em sua obra de grande densidade, integrando e articulando as interações e explicitando as interfaces entre a biologia, medicina, cultura, artes e história.


Do ponto de vista antropológico do desenvolvimento e funcionamento simbólico na criança e no jovem, a escola precisa ser, guardadas as devidas proporções, um “berço para a criatividade” para alunos e professores. Ou seja, da neurociência emerge a importância de considerar a dimensão da escola como espaço de cultura.


Teríamos, então, uma visão integrada da neurociência com a antropologia e com as artes para auxiliar a definição do conceito de currículo, ou, ao menos, para o currículo abarcar as múltiplas dimensões do desenvolvimento humano.


Dessa perspectiva, imaginar passaria a ser uma atividade não só constitutiva do currículo como também
um componente de formação da pessoa do educando. Em outras palavras, faria parte das atividades de estudo do aluno, bem como teria um papel importante na própria formação e no desenvolvimento profissional e pedagógico do educador.

[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]