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ENTREVISTA
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É preciso valorizar a palavra dos professores
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Teórico da educação e reitor honorário da Universidade de Lisboa fala sobre a importância de mudar o foco do protagonismo em quem discute os temas sobre a docência
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[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]O olhar analítico do professor universitário português António Sampaio da Nóvoa acompanha sua vasta biografia. Além de uma carreira ligada à educação e aos estudos em temas como história dos processos educativos e psicologia, é muito importante sua participação na pesquisa sobre a formação de professores.
É doutor em Ciências da Educação pela Universidade de Genebra e História Moderna Contemporânea pela Universidade Sorbonne. Atualmente, além de professor do Instituto de Educação, é reitor honorário da Universidade de Lisboa, Portugal.
São mais de 150 livros, traduzidos em diversos idiomas, que dão eco ao trabalho do catedrático, que chegou a se candidatar à presidência de Portugal em 2016 – não saiu vitorioso, mas conseguiu 22% dos votos, ocupando a segunda posição.
Nessa conversa com a revista Mundo Escolar, Nóvoa reiterou um assunto que aborda com convicção, de forma direta e aberta: a importância de dar protagonismo ao docente no processo de formação na discussão do segmento educacional contemporâneo.
Mundo Escolar – Em algumas de suas falas, o senhor afirma que os professores viram o seu território profissional e O simbólico ser ocupado pelos discursos de outros grupos. De que forma esse espaço foi ocupado?
António Sampaio da Nóvoa – É fácil olhar à nossa volta e ver quem fala publicamente sobre educação. São os professores? Raramente ou nunca. São grupos diversos de especialistas, cientistas, colunistas, gestores, economistas, fundações, grupos editoriais etc. Todas essas pessoas têm opiniões sobre a educação e a escola, e elas são importantes e legítimas. Mas, muitas vezes, trazem um discurso arrogante, com muito ruído, que coloca os professores numa situação tímida e defensiva. Afinal de contas, o que vale a palavra de um “simples” professor da educação básica em comparação com a palavra de pessoas tão “ilustres”? É preciso mudar esse estado de coisas e valorizar, verdadeiramente, a palavra dos professores.
O senhor acredita que esse fenômeno se repete em outros países e continentes?
Sim, mas adquire uma dimensão maior no Brasil, devido à fragilidade da cultura profissional docente. Fico sempre muito impressionado com certos discursos sobre os professores no país. São quase sempre para referir o que eles não sabem ou não conhecem, para falar das suas necessidades de formação ou das suas fragilidades. Raramente vejo realçar o que os professores sabem, as suas experiências inovadoras ou a forma como procuram dar resposta a realidades sociais duras e difíceis. Claro que nada disso é inocente. Se os professores “não sabem”, então é preciso que alguém saiba por eles e lhes explique, de fora da profissão, o que é preciso fazer…
Na Europa, há uma tradição de maior reconhecimento do trabalho dos docentes, o que permite alargar as suas margens de liberdade e autonomia.
No Brasil, nem sempre é assim e certos movimentos políticos contribuíram fortemente para um desgaste da autonomia da classe. Sei que chegou a existir apelos para que alunos filmassem professores, durante as aulas, a fim de os denunciarem. É o gesto mais grave que posso imaginar, porque é contrário a todos os princípios e valores educativos, porque destrói a base de qualquer relação pedagógica – a confiança mútua entre professores e alunos.
Que tipo de ações práticas são necessárias para oferecer protagonismo ao professor nesse processo de profissionalização?
É a resposta mais fácil, mas a de mais difícil concretização, pois choca com muitos interesses de universidades, de fundações, de grupos empresariais e editoriais, de centros vários etc. É preciso que haja uma valorização dos próprios professores, daquilo que sabem e que fazem, através de um trabalho de partilha e de colaboração com os outros docentes. É preciso que eles escrevam e publiquem reflexões sobre as suas experiências e iniciativas. É preciso que haja uma regulação mais autônoma da profissão, menos dependente de lógicas políticas, burocráticas ou administrativas.
Não se nega a importância de colaborar com tudo e todos que estão fora da profissão. Os professores devem ser, por definição, uma profissão aberta à cultura, à ciência, à sociedade. Mas é preciso reforçar o poder dos professores sobre o seu próprio trabalho e sobre as suas dinâmicas de desenvolvimento profissional.
Diante de sua experiência, para um país com a realidade do Brasil, qual o grande desafio para o processo de formação continuada dos docentes?
O mais fácil é construir cursos e mais cursos, sobre as mais diversas “necessidades de formação” dos professores: desde as tecnologias às “competências socioemocionais”, desde as questões do cérebro e do seu funcionamento até aos “construtivismos” dos mais diversos tipos. Levam-se os professores para uma sala ou, agora, para uma tela, onde os mais diversos “especialistas” lhes ensinam tudo o que, supostamente, faria deles “melhores professores”.
O mais difícil, mas necessário, é criar as condições para uma reflexão partilhada dos docentes entre eles, deles com universitários e intelectuais, com os movimentos sociais, com artistas e cientistas. É nessa reflexão partilhada, feita em conjunto, que se encontra a chave para a formação continuada dos professores, sempre em ligação com o trabalho de transformação das escolas e com os processos de inovação pedagógica.
A CULTURA DOCENTE
O professor Antônio Nóvoa utiliza, com frequência, a afirmação de que é necessário valorizar a cultura
docente. Algumas políticas que podem ser fundamentais nesse processo, que fazem parte de uma proposta de
pensar integralmente o ciclo de vida profissional dos professores, abrangem iniciativas como:
✓de atração de jovens para as licenciaturas; de renovação das licenciaturas como cursos efetivamente de formação para a profissão de professor;
✓de construção de programas de indução profissional para a fase de transição entre a formação e a
profissão e de acompanhamento dos professores principiantes;
✓de reforço de uma formação continuada dos professores em relação com os processos de inovação
e de transformação da escola;
✓de ajuda aos professores na fase de pré-aposentadoria e, até, de aproveitamento dos aposentados para falarem com os jovens sobre as suas experiências, dilemas e histórias.
Como resposta, o catedrático ressalta os três verbos que devem ser valorizados nessa relação: Proteger os professores, sobretudo os jovens e aqueles que atuam em territórios mais problemáticos; Partilhar o que os professores sabem, as suas experiências e reflexões, de modo a construir e valorizar o conhecimento profissional docente; Participar ativamente na gestão da escola, e na sociedade, e na formulação das políticas públicas de educação.[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]