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ESCOLA DO AMANHÃ
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Caminhos para uma
escola humana, acolhedora e diversa
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Filósofos e pesquisadores debatem os desafios e rumos da educação brasileira, sob os ecos da pandemia, das novas tecnologias, legislações e das necessidades do aluno
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[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Após anos de isolamento em suas casas, os alunos, agora em sala de aula, continuam ‘ausentes’, cada um em seu espaço. O cenário é preocupante e tem sido relatado com frequência por professores, principalmente em classes de adolescentes. “Quando voltam, parece que se esqueceram de como conviver”, alerta a psicanalista Viviane Mosé, especializada em políticas públicas e doutora em filosofia.
Os dias vivenciados por estudantes no país – e, em certos aspectos, em todo o mundo – têm sido complexos e desafiadores.
O retorno às atividades presenciais, após um período ímpar na história da humanidade, como o enfrentado desde 2020 com a pandemia da Covid- 19, tem proporcionado uma série de obstáculos nos campos técnico e social que, além de denotarem um desafio para as rotinas escolares, mostram como serão os passos desse processo educacional no futuro.
O impacto dessas ocorrências foi tão grande que, em artigo produzido no início da pandemia, a professora e pesquisadora do departamento de Educação da Universidade de Murcia, na Espanha, Cecilia Azorín, chegou a classificá-lo como uma supernova na história do ensino.
ESCALA ESTELAR
Na astronomia, de forma bem resumida, a supernova é a explosão de uma estrela, que coincide com o estágio final de sua vida. É uma mudança absoluta no seu estado de existência. “Quando utilizei esse termo, no início da pandemia, minha intenção era a de reconhecer o profundo impacto que a Covid-19 tinha provocado no campo da educação”, explica a acadêmica espanhola.
A pesquisadora, que se recuperava da contaminação pelo vírus em meados do mês de maio, quando respondeu aos questionamentos da revista Mundo Escolar, contou que essa era a impressão que tinha naquele momento. “Me aventurei em afirmar que, durante o fechamento das escolas, todo o percurso educativo das décadas anteriores havia chegado ao fim”, recorda-se.
Passado o momento mais crítico da crise sanitária mundial, Azorín esclarece que, em sua publicação mais recente, já de 2022, conta que o contexto, ainda levando como comparação a astronomia, passou a ser o de uma estrela pulsar.
Pulsares têm sua origem nos restos de estrelas que entraram em explosões durante as supernovas. Segundo a análise da professora, o modelo pulsar da educação se compõe de três elementos. “O giro copernicano que agora, mais do que nunca, coloca o aluno no centro da ação educativa; o campo magnético, que está atraindo as inovações pedagógicas que se organizaram por consequência desse movimento; por fim, o farol orientador, que atualmente ilumina o caminho da aprendizagem em um mundo que se supõe cada vez mais complexo”, resume.
TRILHA INTERMEDIÁRIA
Com base em seus estudos, a pesquisadora acredita que o ensino está assumindo um caminho intermediário – e que é possível observar que algo foi aprendido nesse período. “A pandemia estimulou muitos a perceberem a oportunidade que brinda esse próximo momento, para levar adiante inovações necessárias para o aprendizado”, pontua.
Nesse contexto, destaca seu interesse no pilar da colaboração, com o estabelecimento de culturas mais profundas nesse âmbito, que surgiram durante o isolamento social e que podem transcendê-lo.
“As escolas e seus funcionários precisam definir novos modelos de educação e desenvolver culturas de aprendizagem colaborativa, que preparem os alunos desde a infância para serem apoiados por seus pares, para resolver problemas juntos, bem como criar redes e trocar conhecimentos”, diz.
Antes do período pandêmico, complementa, havia um consenso sobre a necessidade de preparar futuras gerações mais colaborativas, mas isso não chegava a se manifestar na prática, observa.
“Atualmente, o uso de redes na educação aumentou exponencialmente e ficou comprovado que, embora já fosse precisa a colaboração, a pandemia tornou essa necessidade ainda maior – há mudanças que, definitivamente, vieram para ficar”, afirma.
O QUE É PRECISO MUDAR
Em um compêndio de circunstâncias particulares da educação espanhola, Azorín cita alguns problemas globais que prejudicam a realidade de seu país.
Alguns deles, ressalta, também podem ser aplicados ao contexto brasileiro. “Existem matizes comuns entre os dois países, como a segregação socioeconômica, as taxas de evasão do ensino médio e os problemas ligados à exclusão digital que os diferentes sistemas educacionais têm experimentado globalmente”, aponta.
E ainda enumera, citando pesquisas brasileiras, outras questões como falhas na comunicação, no uso das novas tecnologias e na colaboração por parte das famílias. “São dificuldades que tiveram forte impacto na aprendizagem dos alunos e na evasão escolar”, diz.
UM MUNDO MAIS COMPETITIVO
Na visão do professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) Gabriel Medina, que estuda a Psicossociologia da Juventude, os próximos tempos para jovens e adolescentes serão desafiadores. “Vão encontrar um mundo mais competitivo, com o trabalho desregulamentado, precarizado, com domínio das grandes corporações em várias dimensões da vida, que será cada vez mais mercantilizada”, alerta.
Para o docente, a discussão sobre esse momento não pode ser apenas no sentido mais amplo, como: ‘tivemos mais adoecimento mental’ ou ‘de que forma a gente põe mais psicólogos’.
“Esse é um problema que temos de encarar de forma coletiva, buscando saídas institucionais e sociais, não meramente individuais”, estabelece o acadêmico, que volta o olhar para a instituição nesse cenário. “A escola tem que pensar em como difundir saúde e promover o acolhimento, a escuta; tem que oferecer soluções a partir da intensificação da participação social, para que o jovem e a comunidade escolar se sintam parte do processo de construção da instituição, visando buscar uma solução mais coletiva”, comenta.
HUMANIZAR E ACOLHER
Para Medina, conceitos como o da humanização e acolhimento devem estar presentes em um projeto escolar, “que reconheça a diversidade dos sujeitos, que fale muito da questão racial, da livre orientação sexual, da identidade de gênero, do machismo e de como a gente acolhe essas diferenças”, explica.
De acordo com o acadêmico, essas temáticas não devem ser respondidas de forma individualizada. “A gente precisa responsabilizar os professores e gestores escolares nesse processo, eles devem se comprometer a ter uma escola humanizada, acolhedora e promotora de saúde”, afirma.
A INTERNET E A CRIAÇÃO DE CONTEÚDO
Para Medina, conceitos como o da humanização e acolhimento devem estar presentes em um projeto escolar, “que reconheça a diversidade dos sujeitos, que fale muito da questão racial, da livre orientação sexual, da identidade de gênero, do machismo e de como a gente acolhe essas diferenças”, explica. De acordo com o acadêmico, essas temáticas não devem ser respondidas de forma individualizada. “A gente precisa responsabilizar os professores e gestores escolares nesse processo, eles devem se comprometer a ter uma escola humanizada, acolhedora e promotora de saúde”, afirma.
A INTERNET E A CRIAÇÃO DE CONTEÚDO
Partindo do pressuposto de que o conhecimento está sendo acessado em todos os lugares, o problema atual, reflete o professor, está em criar um processo com os jovens sobre como acessar esses conteúdos. “Hoje em dia, o consumo da internet é de rede social, para compartilhamento de fotos e vídeos de Tik Tok”, afirma.
Apesar de todas as possibilidades que a rede oferece, o seu uso, no geral, não explora esse potencial. “A escola precisa criar relações com esse público para ele produzir na internet, criar tutoriais de estudo, de reflexão, desenvolver aplicativos interessantes para aprender”, enumera.
Medina reforça que é preciso ver a rede como uma aliada e não inimiga – mas que não é indicado achar natural a forma como os jovens utilizam esses recursos.
Segundo o especialista, isso também serve para adultos, que cada vez estão lendo menos, constantemente consumidos por ferramentas como o Whats- App. “Precisamos fazer a reflexão de como se aproveitar da tecnologia para aprender, conhecer, fazer trocas mais profundas e não tão superficiais”, diz.
COMPAIXÃO, SOLIDARIEDADE E RESPEITO
Dentre as tão comentadas competências para o século XXI, presentes na escola e na vida, Medina ressalta que muitas delas estão pautadas pelo mercado e as novas dinâmicas de trabalho, em questões como criatividade, colaboração e resolução de problemas complexos.
No entanto, há espaço e necessidade para outros valores. “Compaixão, solidariedade, respeito ao outro, amor precisam ser pilares que estruturam uma sociedade”, reflete, reforçando que é preciso encontrar tempo e espaço para se atentar nisso.
“Temos de trabalhar, porque a desumanização e a barbárie têm vindo com muita força, como um projeto hegemônico no mundo, abdicando da ideia da democracia como forma de governo”, aponta.
Para o especialista, é preciso produzir um outro modelo de sociedade, onde tópicos como compaixão, solidariedade e respeito possam prevalecer – “e a educação tem papel central em produzir esse cenário, em que são os princípios éticos que sustentam uma sociedade e precisam ser alicerces na construção de um novo padrão de relação do ser humano com o mundo, com a natureza e a própria interação entre as pessoas”, afirma.
SER ESTUDANTE EM TEMPOS DE ANGÚSTIA
No início da crise da Covid-19, a sociedade, como um todo, vivenciou momentos de angústia por conta da ameaça da doença e o conceito da proximidade da morte. Se com o passar do tempo esse sentimento vem sendo superado, de alguma maneira, ele passou a se somar a outro processo, reflete o doutor em Filosofia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Marcelo Carvalho. “Estamos observando uma mudança de sensibilidade, que foi intensificada pela pandemia, que é a experiência do trauma, de viver o choque constante, na velocidade que somos bombardeados por crises e problemas”, comenta.
Esse conflito, cita, tem também relação com o uso massificado das rotinas on-line. “Quanto mais tempo as pessoas dedicam ao ambiente virtual, mais angustiante fica esse processo”, diz.
Para crianças e adolescentes, o professor, ex-diretor da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof), aponta que esse sentimento de aflição foi potencializado pelo isolamento social. “O indivíduo, entre 10 e 12 anos de idade e, também, dos 16 aos 18, demonstra uma angústia associada a um tipo de convivência que ele não sabe construir”, explica.
O uso intenso das redes sociais também interfere nesse quadro. Carvalho compara algumas interações nessas plataformas como “xingar alguém no trânsito”, pois você emite uma mensagem, mas não está em contato com o interlocutor.
“O excesso desse tipo de convívio digital diminui a capacidade de reconhecimento do valor que as pessoas têm e, assim, a gente vai perdendo o horizonte daqueles que estão ao nosso redor”, pontua.
Para o professor, o momento hoje é de utilização do espaço escolar para reconstruir essas estruturas. “É preciso olhar para esse adolescente, que não construiu essa capacidade de se reconhecer no outro, para ter essa possibilidade de compadecimento – isso se torna algo muito mais difícil em outros momentos da vida”, afirma. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]