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LEITURA
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A busca por jovens leitores
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Grande parte das famílias brasileiras não lê e a escola é sobrecarregada
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[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Boa parte das pessoas teve a experiência de começar a ler no ambiente escolar, mas a responsabilidade de formar leitores também é da família. As casas brasileiras, em sua grande maioria, não são ambientes propícios. Pais que não leem, crianças sem acesso, também por razões socioeconômicas. Estevão Azevedo, mestre pela Universidade de São Paulo (USP) e escritor, assegura que mais desafiador que uma criança que vem de uma família assim, é um professor que não lê. Ele conta que Ana Maria Machado, jornalista, professora e escritora brasileira, diz que é muito difícil ensinar a se apaixonar pela leitura se o professor também não é. “Se falamos com paixão de um livro que a gente gosta, há muito mais chances de alguém ter interesse em conferir essa obra”, acredita Estevão, que é coordenador editorial de literatura da FTD Educação.
A formação de professores leitores é fundamental para que as crianças se interessem, pois são eles os mediadores desse processo. Estevão explica que os docentes de todas as disciplinas devem ser leitores, não apenas o de português ou de redação. “O de geografia pode falar para seus alunos de uma obra que o agradou e que trate de um tema de sua área. Há também os que envolvem a matemática, exemplifica Estevão, autor do volume de contos “O som de nada acontecendo”, do grupo editorial Record.
Ao abordar seu uso, muita gente entende que dentro do universo escolar a literatura é um instrumento para aprender algo específico. Quando a escola decide adotar uma obra para ensinar geografia ou história, certifica essa ideia, de que o mais importante é o conteúdo que ela transmite sobre algum saber do mundo. Só que isso vai na contramão da boa literatura e do que preconiza a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), sobre formar pela fruição literária.
Estevão explica que para desenvolver as crianças desde cedo, a literatura tem importância por si só, e não somente pelos conteúdos que transmite. É essencial que aprendam a enxergar o universo que ela traz: as palavras que são escolhidas, o modo como são agrupadas, o trato com a língua. “Deve abordar o que existe no mundo e um dos seus potenciais é ajudar a compreender tudo isso”, avança Estevão, autor do infantil “Pronto, foguete, vamos!” da FTD. Há narrativa que fala da água, da história do Brasil, de questões socioemocionais, mas, para ser útil, não deve tratar de uma única coisa e de um jeito só. Ela não pode dar apenas uma resposta. “Se um livro responde a uma pergunta apenas, isso normalmente é má literatura ou um panfleto, um manual de instruções, algo dogmático”, complementa Estevão.
Um livro adotado para trabalhar especificamente o ciclo da água é paradidático, e foi escrito com esse objetivo. Há o que encanta pela escolha e sonoridade das palavras, pela beleza de suas imagens textuais ou pelas reflexões que provoca. “E por essa razão é que a literatura segue viva, século após século. Imagine se, feita há 500 anos, dependesse de um contexto específico daquela época, para ser compreendida. Ela não duraria até hoje. Mas a boa literatura segue fazendo perguntas diferentes, para gerações e pessoas diferentes, não se fecha numa única questão”, desenvolve Estevão, autor de “O dia em que meu prédio deu no pé”.
A literatura sempre ensina, às vezes algo inesperado, que não esperávamos, e é por isso que ela não se presta tão bem à função de abordar um único conteúdo. Estevão destaca o poder de lidar com sentimentos, com a alteridade, quando, através de uma história, pode-se viver profundamente a vida de outra pessoa, a ponto de vivenciarmos as emoções de um personagem, porém num ambiente seguro, protegidos pela ficção. Um bom livro que se passa durante a Guerra do Paraguai, por exemplo, ensina a compreender melhor o ocorrido, mas também pode orientar a usar melhor as palavras e a ler melhor, ilustra Estevão, que continua: O clássico Dom Casmurro pode falar sobre o Rio de Janeiro do final do século XIX, o costume, geografia, economia e arquitetura da época, mas também ensina sobre quem está contando a história: “Será que Capitu traiu? – pois quem está me contando essa história é o homem que se supõe traído”.
UM ESPAÇO DE LIBERDADE
Deve-se estimular a criança a ter prazer com a literatura, e o segredo para isso acontecer é dar liberdade. “A criança interpreta como quiser, se atém ao que lhe chama a atenção, ao que lhe encanta ou ao que lhe toca, faz uma leitura livre de imposições, sem avaliações ou cobranças. Estevão frisa a importância que o mediador seja o professor na escola, ou um familiar em casa, e o espaço de liberdade deve ser estimulado e respeitado.
Segundo Estevão, a criança deve ter contato com o livro desde bebê, inclusive para estragar, quando quiser. Ele conta que Yolanda Reyes, escritora colombiana e pesquisadora das relações entre leitura e primeira infância desde os anos 1980, costuma dizer que na primeira infância começa pela emoção, pela pele e pelo tato. Fundadora do Espantapájaros, um espaço para a infância em Bogotá, há uma “bebeteca”, onde crianças bem pequenas leem ao ouvir a voz de seus pais, ao morder os livros, ao folhear suas páginas de cabeça para baixo.
Estevão fala sobre rimas, que de forma fácil e intuitiva apresentam à criança um texto que tem um trabalho estético, onde o autor escolhe palavras que rimam e que possuem uma sonoridade gostosa. Sem teorizar sobre isso, mostram à criança que a literatura é uma arte que lida com palavras, quando ela experimenta e cria novas rimas e as memoriza facilmente. Assim também com as ilustrações: “Quando o autor desenha somente os olhos da baleia demonstra que ela é tão imensa que não cabe na página, ensinando a criança pela diversão e fruição”, ilustra Estevão.
Uma história acumulativa é um gênero caracterizado pela repetição de ações ou falas que funcionam muito bem com a criança pequena e que aos poucos a fazem perceber que a história irá se repetir, mas que trará um elemento novo. Quando se lê uma adivinha para a criança, ela percebe que precisa encontrar uma resposta para a pergunta feita e isso é muito divertido. O desafio é ajudar o aluno a encarar com prazer e não como um fardo.
Enfrentar tudo isso na escola é tarefa difícil porque partimos de indicações de leituras padronizadas, porém trata-se de obras importantes e que devem ser trabalhadas. É fundamental conhecer Machado de Assis porque faz parte do patrimônio cultural da humanidade, é um direito e uma ferramenta indispensáveis. O jovem deve ter acesso ao cânone, mas ele também precisa de um espaço de liberdade, uma biblioteca onde ele possa escolher.
A escola deve criar estratégias. Um erro é condicionar a leitura a um teste para verificar se o aluno entendeu a história. “Pode ser que ele não saiba responder as 5 perguntas da prova, mas o livro pode ter transformado esse aluno profundamente em outros aspectos. Estevão adverte que exigir pós-leituras são formas que matam o prazer.
Um bom livro é o que usa as palavras com propriedade, traz beleza e recursos estéticos. “A literatura é uma arte de múltiplos sentidos: Se eu domino a estética do texto, mas que tenta claramente doutrinar sobre determinado aspecto e ao término chego a uma única conclusão, então isso é má literatura, pois chega com um conteúdo imposto, e não abre a possibilidade para o leitor fazer sua própria interpretação.”
ALUNOS NA CONSTRUÇÃO DA PRÓPRIA TRAJETÓRIA
Hoje em dia, clubes de leitura no Brasil e no mundo estão fervilhantes de pessoas que se reúnem espontaneamente. A sensação de fazer parte de uma comunidade se mostra poderosa. “Na maior parte das vezes é uma atividade íntima, em que lemos sozinhos e em silêncio, mas compartilhar leituras e opiniões é algo poderoso e que forma muitos leitores”, conta Estevão.
“Depois de ler um livro de ou assistir a um filme, pode-se postar comentários em redes sociais específicas, seguir diretores, autores, escritores, acompanhar de perto seu trabalho; podemos produzir playlists, vlogs, vídeos-minuto, escrever fanfics, produzir e-zines, nos tornar um booktuber, dentre outras muitas possibilidades” (BNCC, Linguagens, Língua Portuguesa, Ensino Fundamental, p 68).
A DIVERSIDADE É DECISIVA
É preciso que o jovem encontre aqueles com os quais se identifique. Até pouco tempo atrás tínhamos dificuldade de encontrar nos livros, na TV e nas músicas, personagens negros, mulheres, homossexuais, indígenas como protagonistas das histórias. Essas pessoas não eram encontradas. “Se o protagonista é sempre homem, branco, letrado e mora no Sudeste, como alguém diferente disso vai se identificar com o livro que lê?”, pergunta Estevão. Esse pequeno espectro de pessoas que contam suas próprias histórias sobre elites privilegiadas não é suficiente para dar conta da complexidade e diversidade do mundo, e assim, estamos perdendo muitas histórias boas. “A diversidade é decisiva não só para a literatura e a vida escolar, mas para a sociedade, cidadania e democracia”, garante Estevão.
ENSINO HÍBRIDO REÚNE PESSOAS NUMA ESPÉCIE DE RODA DE LEITURA
As possibilidades que hoje se apresentam para quem quer conhecer livros, se formar como leitor, professor ou escritor, aumentaram no mundo híbrido, com uma infinidade de cursos, palestras, eventos e oficinas de escrita, que sempre existiram, mas que antes eram procurados por poucos”, explica Estevão. Já na educação infantil e início do fundamental 1, quando são ilustrados, ter o livro na mão para explorar as ilustrações é essencial. Conhecer o peso, capa e contracapa, identificar autor e ilustrador e participar das rodas de leitura trazem muitos aprendizados, além da história. [/vc_column_text][/vc_column][/vc_row]