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CAPA

[/vc_column_text][vc_separator color=”custom” accent_color=”#e61877″][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_single_image image=”6095″ img_size=”full”][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

EMPATIA  NA SALA DE AULA

[/vc_column_text][vc_column_text]POR QUE FICAMOS COM OLHOS MAREJADOS QUANDO O PROTAGONISTA DE UM FILME SOFRE UMA PERDA? POR QUE SENTIMOS UMA VONTADE INCONTROLÁVEL DE BOCEJAR QUANDO ALGUÉM BOCEJA? POR QUE SORRIMOS QUANDO VEMOS ALGUÉM SORRIR? A RESPOSTA PARA ESSAS PERGUNTAS ESTÁ EM UMA ESTRUTURA DESCOBERTA RECENTEMENTE: OS NEURÔNIOS-ESPELHO. SEU ESTUDO TEM REVOLUCIONADO A COMPREENSÃO DO CÉREBRO E DA NOSSA CAPACIDADE DE IMITAR, EXPERIMENTAR EMOÇÕES ALHEIAS E, ESPECIALMENTE, APRENDER [/vc_column_text][vc_column_text]

Por Tiago José Benedito Eugênio

[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]Em junho de 2017, foi inaugurada em São Paulo a exposição Consciência cibernética. Foram exibidas dez obras de artistas brasileiros e internacionais que exploram o tema da inteligência artificial, isto é, máquinas cada vez mais complexas e velozes capazes de realizar algumas funções antes executadas unicamente por cérebros biológicos. A instalação interativa Neuror mirror, criada pelos artistas austríacos Christa Sommerer e Laurent Mignonneau, por exemplo, provoca o visitante a se questionar sobre a imagem que tem de si mesmo e dos outros. A obra é composta por três telas dispostas como um tríptico. A tela do meio mostra o rosto do participante em tempo real, enquanto a da esquerda revela sua imagem do passado, e da direita representa a do futuro no qual as ações da pessoa se aproximam de suas ações passadas. Nessa instalação, as redes neurais são utilizadas para prever o futuro e explorar a autoimagem do participante. É comum haver fila de espera nessa instalação: as pessoas desejam sentar-se e contemplar a a própria imagem exibida levemente distorcida e pixelada nas três telas. Não é difícil observar o visitante tirar o celular do bolso para fazer um selfie. No entanto, poucos se atentam aos pressupostos científicos que a instalação artística carrega em sua essência. Na verdade, como revela o título da obra, os artistas se inspiraram no funcionamento dos neurônios-espelho, um dos maiores achados da neurociência nos últimos tempos.

A descoberta dessas células permitiu se aprofundar em perguntas intrigantes, como, por exemplo, por que ficamos com olhos marejados quando a protagonista do filme sofre algum dano ou perda? Por que sentimos uma vontade incontrolável de bocejar quando alguém boceja? Por que sorrimos quando vemos alguém sorrir? Mais do que respostas a essas perguntas, o neurônio-espelho, atualmente, se configura como um mecanismo-chave para compreendermos a natureza da aprendizagem balizada pelos processos de imitação e empatia. Nos últimos anos, pesquisas na área de neurociências têm posto em evidência a importância da sincronia neural entre os indivíduos, mediada, sobretudo, pela ativação dos neurônios-espelho, como indicador de um processo de ensino e aprendizagem eficaz. Além disso, os estudos têm testado e validado diferentes estratégias pedagógicas adotadas em sala de aula por professores, relacionando o nível de sincronia nos estados fisiológicos entre os estudantes. Em conjunto, esses achados indicam que a aprendizagem um processo constituído por uma dimensão biológica e outra social, cujas relações, quando bem compreendidas, podem sugerir caminhos para assegurar a boa apreensão de conteúdos pelos alunos.

NEURÔNIOSESPELHO
Os neurônios-espelho foram descobertos na década de 90 pela equipe do neurofisiologista Giacomo Rizzolatti, da Universidade de Parma, na Itália. Na época, os pesquisadores registraram a atividade dos neurônios na área F5, localizada no lobo frontal, os quais eram ativados quando um macaco Rhesus fazia um movimento com uma finalidade específica. Cada vez que o animal cumpria uma tarefa como, por exemplo, apanhar uvas-passas com os dedos, neurônios do córtex pré-motor disparavam. Por acaso, um aluno entrou no laboratório e levou um sorvete à boca. Naquele mesmo instante, os pesquisadores ouviram o monitor apitando, indicando que os mesmos neurônios haviam sido disparados. Foi uma surpresa para os cientistas, uma vez que o macaco estava imóvel, ou seja, ele apenas assistiu à Rizzolatti, da Universidade de Parma, na Itália. Na época, os pesquisadores registraram a atividade dos neurônios na área F5, localizada no lobo frontal, os quais eram ativados quando um macaco Rhesus fazia um movimento com uma finalidade e ecífica. Cada vez que o animal cumpria uma tarefa como, por exemplo, apanhar uvas-passas com os dedos, neurônios do córtex pré-motor disparavam. Por acaso, um aluno entrou no laboratório e levou um sorvete à boca. Naquele mesmo instante, os pesquisadores ouviram o monitor apitando, indicando que os mesmos neurônios haviam sido disparados. Foi uma surpresa para os cientistas, uma vez que o macaco estava imóvel, ou seja, ele apenas assistiu à cena do movimento feito pelo aluno. A descoberta ficou mais interessante quando se percebeu que, sempre que o macaco assistia ao experimentador ou outro macaco repetir essa cena, inclusive com outros alimentos, os neurônios disparavam.  

Desde a identificação dos neurônios-espelho em primatas, diversos estudos com neuroimagem tentaram localizar e mapear a presença dessas células em seres humanos. As pesquisas sugerem a existência de um sistema sof isticado desses neurônios-espelho em várias áreas corticais frontoparie tais. A equipe do neurocientista Giovanni Buccino, em 2004, também da Universidade de Parma, utilizou ressonância magnética funcional (fMRI) para medir a atividade cerebral de seres humanos. Os pesquisadores apresentaram aos participantes um vídeo com sequência de movimentos de boca, mãos e pés. Os resultados mostraram que, dependendo da parte do corpo exibida no vídeo, o córtex motor dos voluntários era ativado com maior intensidade justamente na região que correspondia à parte do corpo em questão, ainda que eles não fizessem nenhum movimento. Dito de outro modo, o cérebro desses participantes estava associando a visão de movimentos alheios (exibidos no vídeo) ao planejamento dos próprios movimentos.  [/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”vc_default”][vc_column css=”.vc_custom_1528800887968{background-color: #71cee1 !important;}”][vc_column_text]SOBRE NOSSA HABILIDADE DE IMPUTAR ESTADOS MENTAIS AOS OUTROS E A NÓS MESMOS


Na década de 70, pesquisadores estudaram o comportamento de chimpanzés, que, assim como os humanos, pensam em seus coespecíficos. Verificou-se que esses primatas têm a capacidade de imputar estados mentais aos outros e a si próprios. Nesse sentido, a teoria da mente é essencial tanto para a autorreflexão quanto para a coordenação da ação social. Em humanos, isso é constatado no clássico experimento teste de Sally-Anne, mostrado para crianças por meio de cartilhas. Primeiramente, a personagem Sally entra, guarda uma bola em um local – por exemplo, atrás do sofá – e sai da cena. Entra em cena Anne, que retira a bola de trás do sofá, coloca-a em outro local – por exemplo, dentro de uma caixa – e sai. Sally retorna em busca da bola – nesse ponto a cena é interrompida. Em seguida, pergunta-se para o sujeito: “Onde Sally irá procurar pela bola? ” Os pesquisadores observaram que, até 3 anos de idade, as crianças apresentam dificuldades de entender que diferentes pessoas podem ter representações distintas de uma mesma realidade.
Nesse caso, essas crianças respondem, em geral, que Sally procurará a bola dentro da caixa. Todavia, quando a mesma pergunta era feita para crianças com mais de 6 anos, quase todas respondiam corretamente: Sally procuraria no local onde tinha deixado a bola, isto é, atrás do sofá.

No que se refere à idade crítica para o desenvolvimento da teoria da mente, há divergências entre os pesquisadores. No entanto, é inegável que com tal recurso cognitivo o ser humano pode, por exemplo, planejar estratégias e tomar decisões críticas numa situação social. Além disso, tornou- se possível ao Homo sapiens prever que ideias os outros estariam formando a seu respeito, bem como tornou mais sofisticadas as relações e a comunicação intra e intergrupo, habilitando-o a entender artifícios da expressão humana como a ironia, a dissimulação, o sofrimento, o interesse e a falsidade.
[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]

 

Outros estudos mostraram que, além de um estímulo visual explícito (observação de uma ação), os neurônios-espelho podem também ser ativados por eventos que têm relação indireta com determinada tarefa: por exemplo, a partir de um som habitualmente associado a uma ação, como o som de uma casca de amendoim se quebrando. Em 2001, a neurocientista Maria Alessandra Umiltà, também da Universidade de Parma, e colaboradores observaram que os neurônios-espelho eram ativados também pela dedução implícita da continuidade de uma ação, como, por exemplo, quando um macaco observa o movimento de uma mão na direção de um objeto oculto por um anteparo colocado posteriormente à apresentação do objeto ao animal. Mais tarde, outros estudos revelaram que os neurônios-espelho não eram ativados apenas pela ação manual. Eles eram ativados também quando o macaco observava atos relacionados com a boca, tais como lamber, morder ou mastigar alimentos. Em outro estudo, os pesquisadores compararam regiões cerebrais humanas ativadas pela observação de diferentes ações comunicativas: o latir de cães, movimentos labiais de macacos e movimentos labiais de humanos (fala em silêncio). Os resultados mostraram que a observação da fala em silêncio ativa a área de Broca, no hemisfério esquerdo, enquanto a observação dos movimentos labiais de macacos ativa uma parte menor da mesma região cerebral; no entanto, a observação do latir dos cães ativava somente áreas visuais extraestriadas. Os pesquisadores então concluíram que, quando a ação observada não faz parte do repertório de ações do ser humano, no caso, o latir dos cães, os neurônios-espelho não são ativados.

Diante de tantas descobertas e funções possíveis desempenhadas pelos neurônios-espelho, essas células recém-descobertas foram associadas a diversas modalidades do comportamento humano: imitação, teoria da mente, aprendizado de novas habilidades e leitura da intenção e emoções expressas por outros seres humanos. É sob essa égide que os neurônios-espelho mudaram o modo como vemos o cérebro e a nós mesmos. Apesar de sua descoberta recente, eles já são considerados um dos grandes achados da neurociência, capaz de revolucionar a compreensão do cérebro, especialmente no que tange à nossa capacidade de compreender, imitar, empatizar e aprender com os outros. A capacidade de “espelhamento” nos permite detectar e compreender, independentemente e antes do processo de mentalização, qualquer ato motor ou cadeias de atos motores, o que potencializa as possibilidades de aprendizado e transmite esses saberes entre gerações. Considerando ainda que a capacidade humana de abstrair intenção a partir da observação dos outros é crucial na transmissão de cultura, a descoberta dos neurônios-espelho é de importância fundamental para compreendermos as bases da aprendizagem e o que nos faz diferentes de outros animais, em termos cognitivos.[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”vc_default”][vc_column css=”.vc_custom_1528801279875{background-color: #f1592f !important;}”][vc_column_text]“A simples observação da expressão de nojo em outra pessoa que cheira um líquido de odor desagradável ativa a parte anterior da ínsula, estrutura do cérebro que também é ativada quando sentimos essa emoção”
[/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_column_text]EMOÇÕES ESPELHADAS
Em seres humanos, foi verificado que a simples observação da expressão de nojo em outra pessoa que cheira um líquido de odor desagradável ativa a parte anterior da ínsula, estrutura que também é ativada quando a própria pessoa sente nojo, do que se conclui que as emoções também podem ser espelhadas. Os filmes de Hollywood são bastante eficazes no fenômeno do “espelhamento” das emoções: o coração bate mais depressa quando você assiste ao pequeno Danny dando de cara com o espírito das meninas gêmeas mortas em um hotel no filme O iluminado, adaptado da obra de Stephen King. Algumas pessoas passam até mal quando veem a tarântula caminhar pelo peito de James Bond no longa O satânico Dr. No, as mãos suam, os olhos se arregalam e é possível sentir um formigamento no próprio corpo, na região por onde as patas do animal passam. Imóvel na poltrona do cinema, sem nenhum esforço, você sente o que o Bond sente.

O pesquisador húngaro Gergely Csibra, do Departamento de Psicologia do Birkbeck College, no Reino Unido, vai mais longe quando sugere que o papel dos neurônios-espelho talvez não seja exatamente espelhar ou simular ações, mas antecipar as possíveis respostas às ações de outra pessoa. Dessa constatação, podemos pressupor que o cérebro seja um grande gerador de hipóteses, as quais antecipam as consequências da ação e permitem a tomada de decisão. Devido a essa capacidade, podemos imaginar aquilo que se passa na mente do outro, colocando-nos no lugar dele, compreendendo suas intenções e ações.

Não é por menos que o cientista Christian Keysers, chefe do Laboratório do Cérebro Social, no Instituto Neerlandês de Neurociência, afirma que os neurônios-espelho permitiram que a neurociência descobrisse a empatia. Não é difícil entender essa descoberta: quando vemos um amigo querido chorar por algum motivo, por exemplo, os neurônios-espelho nos permitem lembrar as situações em que choramos e simular a aflição dele. Dessa forma, sentimos empatia por ele, sentimos o que ele está sentindo. 

O historiador da cultura Roman Krznaric afirma que o século 20 foi a Era da Introspecção, referindo-se à ideia, intensamente promovida pela indústria da autoajuda e a cultura da terapia, de que a melhor maneira de compreendermos quem somos e como deveríamos viver seria olhar para dentro de nós e nos concentrar em nossos sentimentos, experiências e desejos. Krznaric ressalta que uma das consequências da teoria do inconsciente de Sigmund Freud foi popularizar a ideia do olhar para dentro – a proposta fundamental da psicanálise é que problemas pessoais podem ser solucionados por meio da investigação profunda de vivências da infância, que seriam a origem inconsciente da construção de padrões de pensamento e de comportamentos que trazem sofrimento psíquico. Para Krznaric, essa filosofia de viés individualista não é capaz de proporcionar melhora efetiva da qualidade de vida para a maioria das pessoas. Logo, o século 21 precisaria ir além e pensar de forma diferente. “Em vez de introspecção, deveríamos criar a Era Outrospecção, na qual encontramos um melhor equilíbrio entre olhar para dentro e olhar para fora. Por outrospecção entendo a ideia de descobrir quem somos e como devemos viver, saindo de nós mesmos e explorando as vidas e perspectivas de outras pessoas. E a forma de arte essencial para a Era da Outrospecção é a empatia”, destaca.  

O florescimento do Homo empathicus – fisicamente equipado para sentir empatia – é sustentado por inúmeras pesquisas científicas. Nos últimos anos, pesquisas como as do primatólogo Franz de Waal mostraram que somos animais sociais que evoluímos naturalmente para ser empáticos e cooperativos, como nossos primos primatas. Em um de seus estudos, dois macacos-capuchinhos foram postos lado a lado. Um deles fazia trocas com o experimentador usando pequenas fichas de plástico. Duas opções de fichas de cores e significados diferentes eram dadas ao macaco: uma ficha sinalizava uma decisão individualista e “egoísta”, a outra, um ato “pró-social”. Caso o macaco escolhesse permutar uma ficha egoísta, o macaco que fazia a troca ganhava um pedaço de maçã, mas seu parceiro não ganhava nada. A ficha pró-social, por outro lado, recompensava os dois macacos igualmente e ao mesmo tempo. Os pesquisadores observaram que pouco a pouco os macacos preferiam sempre a ficha pró-social, mostrando quanto se importavam com o bem-estar uns os outros.

Seguindo a mesma linha, o psicólogo Paul Bloom afirma que somos seres sociais e empáticos desde os primeiros meses da vida. Sua afirmação é feita com base em uma série de experimentos conduzidos sob sua supervisão na Universidade Yale. Primeiro, os cientistas queriam saber se bebês entenderiam que as pessoas tendem a se aproximar daqueles que lhes prestaram ajuda e a evitar aqueles que os prejudicaram. Os pesquisadores, então, criaram desenhos animados em que figuras geométricas ajudavam ou atrapalhavam outras figuras geométricas. Foram mostradas cenas, por exemplo, de uma bola vermelha tentando subir uma ladeira. Em alguns casos, um quadrado amarelo se colocava atrás da bola e gentilmente a empurrava ladeira acima (ajudando-a); em outros, um triângulo verde aparecia na frente da bola e empurrava-a para baixo (atrapalhando-a). Em seguida, os bebês assistiam a filmes em que a bola se aproximava do quadrado ou do triângulo. Isso permitiu aos cientistas investigar as expectativas dos bebês sobre como a bola agi a na presença desses personagens. Os resultados mostraram que crianças de 9 a 12 meses olhavam por mais tempo quando a bola se aproximava do personagem que a atrapalhava, e não daquela que a ajudava. A magnitude do efeito era maior quando os personagens dos desenhos animados tinham olhos, fazendo-os ficar mais parecidos com humanos, o que sustenta a noção de que se tratava de autênticas apreciações sociais da parte dos bebês. Esse estudo investigou as expectativas dos bebês sobre como os personagens agiriam diante de um facilitador e de um dificultador, mas não nos diz o que os próprios bebês pensam a respeito do facilitador e do dificultador.

Os pesquisadores perguntaram então se os bebês teriam alguma preferência. Do ponto de vista de um adulto, o facilitador é uma pessoa boa, e o dificultador, uma pessoa estúpida, merecedora de certo distanciamento. Em outra bateria de experimentos, os pesquisadores utilizaram objetos geométricos, manipulados como fantoches, em vez de desenhos animados. E, em vez de usarem medidas de tempo do olhar, que são ideias para explorar as expectativas dos bebês, utilizaram medidas de alcance dos braços, que são mais adequadas para determinar o que os próprios bebês preferem. As situações foram as mesmas utilizadas no experimento anterior. No final, o pesquisador colocava o personagem facilitador e o personagem dificultador em uma bandeja para observar qual deles o bebê pegaria. Para assegurarem que os bebês não estavam preferindo determinada forma e cor do objeto, os pesquisadores variaram sistematicamente os papéis do facilitador e dificultador. Ainda, para eliminar o efeito de sugestões inconscientes dadas pelos pais volta do bebê, nenhum adulto havia assistido ao teatro de fantoches, e por isso não sabia a resposta “certa”; além disso, o responsável pelo bebê, que o segurava no colo durante o experimento, fechava os olhos no momento da escolha. Conforme o previsto, os bebês de 6 a 10 meses preferiram os objetos que ajudaram aos que criaram dificuldades. Bloom relata ainda testes similares com bebês de 3 meses, que nem conseguem controlar suficientemente bem o alcance de seus braços para serem testados. Mesmo sem essa medida precisa, os pesquisadores verificaram que os bebês nessa faixa etária preferiam olhar para os personagens facilitadores. Com base nesses achados, fica cada vez mais claro que a empatia é produto de uma maquinaria inata – uma marca indelével da nossa espécie.  [/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_single_image image=”6039″ img_size=”full” alignment=”center”][/vc_column][/vc_row][vc_row type=”vc_default”][vc_column css=”.vc_custom_1528801279875{background-color: #f1592f !important;}”][vc_column_text]“As pesquisas têm corroborado ideias de visionários antigos da educação como Lev Vigotski e Paulo Freire, que, muito antes de tomarem qualquer conhecimento sobre neurônios-espelho, afirmaram que a melhor maneira de aprender é por meio das interações sociais”
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PROGRAMAS ESCOLARES
Mais conteúdo, mais exercícios, mais repetição e testes podem até resultar em uma nota maior, todavia não preparam o aluno de forma integral, muito menos desenvolvem nos estudantes as competências socioemocionais necessárias para enfrentar os desafios da vida real, os quais exigem indivíduos com orientação de interesse e energia em direção às relações sociais; pensamento crítico e resolução de problemas; estabilidade emocional balizada pela previsibilidade e consistência de reações emocionais; interesse e motivação para agir de modo cooperativo e não egoísta e demonstração de empatia e compaixão pelos pares. Além disso, há de se convir que o modelo de educação tradicional, focado estritamente na performance e recompensa individual, é bastante obsoleto em face dos achados recentes que convergem para um novo modelo de ser humano cooperativo e empático por natureza. Associado ao universo de interfaces e possibilidades oferecidas pelo mundo digital, o campo da educação sofre pressão por todos os lados para se ressignificar como práxis, isto é, como caminho para formação de cidadãos ativos, conscientes e felizes no mundo.

Não é para menos que os currículos escolares sofrem atual mente uma espécie de primavera metamórfica. Surgem currículos com nomes novos com a clara intenção de exibir uma noção de interdisciplinaridade, integração entre disciplinas e abertura de novos espaços para experimentação e ressignificação do processo de ensino e aprendizagem. Na verdade, o nome do currículo não é o mais importante. O calcanhar de aquiles reside na maneira como as relações são estabelecidas entre os atores que formam o ecossistema de aprendizagem, isto é, entre os professores e os estudantes. Nesse ponto, a empatia é fundamental para que as boas práticas decolem e realizem mudanças realmente transformadoras.

Vejamos alguns exemplos de como a empatia pode funcionar na sala de aula. Num curso primário, imagine uma sala de aula na qual alunos de 8 anos estão sentados em torno de um bebê que está em uma esteira no chão. Eles o observam atentamente e discutem o que ele poderia estar sentindo ou pensando naquele momento e por que começou a chorar de repente. Pois isso é exatamente o que acontece em uma aula do programa escolar Roots of Empathy, uma das propostas curriculares de ensino de empatia mais bem-sucedidas e premiadas do mundo, criada pela educadora canadense Mary Gordon. Nesse programa, o professor é um bebê. O foco está em ativar continuadamente os neurônios-espelho das crianças a partir de um aprendizado essencialmente experimental. Cada turma, literalmente, “adota” um bebê, que o visita regularmente ao longo do ano escolar. Durante o curso, os alunos observam o desenvolvimento do bebê, bem como discutem suas reações emocionais e mudanças na visão de mundo. Os pais, que sempre acompanham as crianças, são em ral questionados e os dados coletados pelos estudantes, discutidos. O programa prevê também trabalhos artísticos e teatrais baseados em empatia, o que as ajuda a dar o salto da tentativa de compreender os sentimentos e as perspectivas do bebê para a tentativa de compreender os de seu colega e da comunidade mais ampla. Diversos estudos mostraram efeitos positivos do Rootsof Empathy. Em um estudo feito na Escócia em 2010, foi verificada redução de comportamentos de bullying durante os intervalos, melhora do relacionamento entre os pares e com os pais e até elevação das notas. O estudo constatou também um aumento de 55% em comportamentos pró-sociais entre as crianças, como compartilhar e ajudar o próximo o que levou o governo escocês a expandir o Roots of Empathy por todo o país. 

Os psicólogos Daniel Goleman e Peter Senge, autores do livro O foco triplo: uma nova abordagem para a educação (Objetiva, 2016), defendem que a escola e a sociedade devem ajudar as crianças a desenvolver foco em três aspectos: em si mesmas, nos outros e no mundo. Os autores compartilham experiências simples e eficazes. Por exemplo, na escola primária de New Haven, em Connecticut, as crianças são organizadas em uma roda de conversa no início da aula e costumam expressar o que sentem naquele dia. Segundo os autores, essa simples atitude faz com que os alunos criem o hábito de autoconsciência. Quando as crianças nomeiam as emoções com precisão, elas têm mais clareza acerca do que ocorre em seu íntimo. Os “amiguinhos da respiração” é outro exercício compartilhado. Nele, cada criança leva um bichinho de pelúcia para a sala de aula, deita-se no chão e coloca o boneco sobre a barriga. A tarefa é bastante simples. A criança deve inspirar e observar o bichinho subindo, enquanto conta de um a quatro. Em seguida, deve observar o bichinho descendo com a expiração, contando novamente. Foi verificado que o número de conflitos aumentava nos dias em q a sessão dos “amiguinhos da respiração” não ocorria.

Nos ensinos fundamental II e médio, o ensino baseado em projetos pode ser um forte aliado para a inclusão da empatia na sala de aula. Em um colégio privado de São Paulo, tive a oportunidade de conhecer um grupo de alunos do 2º ano do ensino médio que manifestaram interesse em trabalhar com cadeirantes. Sem definição inicial do escopo do trabalho, a química Rosiani Telles, professora orientadora, sugeriu que o grupo realizasse um processo de imersão, isto é, se colocasse no lugar do cadeirante para coletar impressões e detectar as necessidades daquele grupo de pessoas. Cada aluno passou pelo menos uma manhã sentado em uma cadeira de rodas na escola. O que surpreendeu o grupo de alunos e a professora é que outros alunos passaram a se interessar pela imersão, tanto que tiveram de criar uma lista de espera. Mais de 70 alunos e professores desejaram se sentir na pele de um cadeirante. Segundo Telles, o processo de empatia motivou os alunos e trouxe insights significativos para o grupo: “Os alunos passaram a ver o mundo sentados, da mesma forma que um cadeirante enxerga. Os alunos ficaram comovidos de olhar para o outro da perspectiva do próprio cadeirante”, destaca. Após o processo de imersão, o grupo sistematizou em um mapa de empatia as impressões e os sentimentos percebidos. Os alunos fizeram também entrevistas com familiares e ouviram de outros alunos e professores da escola as impressões e os sentimentos deflagrados pelo processo. Surgiu então a ideia de criar um aplicativo que unisse virtualmente cadeirantes com familiares e amigos. “Os familiares nos relataram que se sentem muito sozinhos, muitas vezes não sabem a quem recorrer, desconhecem coisas simples como direitos para adquirir uma cadeira de rodas, maneiras de adaptar uma casa ou qualquer outro espaço para o cadeirante”, completa.

ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
A abertura de espaços na sala de aula para o exercício intencional da empatia é fundamental para alinhar o propósito explícito de aprendizagem com a maneira como nosso cérebro funciona e aprende, especialmente no que diz respeito à ativação dos neurônios-espelho, como indicador de um processo de aprendizagem eficaz. Para enriquecerem essa discussão, pesquisas recentes têm mostrado também que a maneira como os estudantes são organizados socialmente exerce um efeito significativo sobre o sucesso de uma atividade didática. Sabe-se que durante as interações sociais um alto grau de sincronia entre indivíduos é um indicador-chave do envolvimento cooperativo. A sincronia pode ser definida como a coordenação e modulação de comportamentos e estados afetivos entre indivíduos que interagem em um ambiente social como o de uma sala de aula. Essa sincronia pode ocorrer também no nível fisiológico, a partir de respostas autônomas, indicando o nível de excitação fisiológica mediado pelo funcionamento cerebral. Desse modo, o exame do nível de sincronia entre os estados fisiológicos deles em uma sala de aula pode indicar o nível de engajamento desses alunos nas tarefas de aprendizagem. A equipe do neurocientista Ross Cunnington, da Universidade de Queensland, vem realizando pesquisas interessantes nessa linha, testando o efeito de estratégias pedagógicas sobre o entendimento de conceitos científicos e o uso destes para resolução de problemas por estudantes australianos. Os dados qualitativos, coletados pela gravação em vídeo e observação in loco, são cruzados com medidas quantitativas dos estados fisiológicos das crianças, coletados por uma pulseira sem fio que utilizada pelos participantes, registra movimento, temperatura, atividade eletrodérmica e frequência cardíaca, medidas relacionadas fortemente a processos de atenção, concentração e memória no cérebro, além de engajamento e cooperação durante as atividades propostas. Foram comparados dois estilos de organização social de estudantes: “pequenos grupos cooperativos” e o modelo “classe inteira”, no qual os alunos tiveram liberdade para fazer contato com todos os outros. Com base no registro da sincronia fisiológica entre as crianças, os cientistas criaram redes gráficas de conectividade. Esse tipo de análise tem sido amplamente utilizado na neurociência para avaliar interações e sincronia entre regiões cerebrais. Cunnington adaptou essa metodologia para analisar a sincronia em cada contexto social observado em sala de aula. Os resultados mostraram que o nível de sincronia fisiológica entre os estudantes foi maior no contexto de “sala inteira”, no qual todos estabeleciam conexões com todos. Portanto, no que diz respeito à sincronia fisiológica, como reflexo e indicador de envolvimento dos alunos durante a aprendizagem, é mais apropriado pensar em atividades pedagógicas que envolvam todos os alunos. Por outro lado, nesse cenário, a ação individual do estudante pode ficar comprometida. No contexto da aprendizagem, em grupos menores, é mais fácil o aluno e expressar, sentir-se ouvido por outros, envolver-se em discussões e investigações científicas mais focadas para pensar e construir significados sobre a própria aprendizagem. Logo, isso significa que pensar em atividades em que o aluno é organizado em pequenos grupos cooperativos também é importante. O problema está no senso comum de que apenas a divisão em grupos pequenos seja suficiente para assegurar o engajamento pleno dos estudantes. Pode ser que o segredo esteja em não mirar as extremidades, mas sim o ponto de equilíbrio. É acreditar no poder da hibridização e na mistura de sistemas logísticos, simbólicos e linguísticos para assegurar a boa aprendizagem.  

Seguindo a mesma linha de raciocínio, na mesma pesquisa, verificou-se que o sucesso da aula dependeu, sobretudo, do número de estímulos e estratégias utilizado pelo professor. A aprendizagem foi eficaz com o uso de uma miríade de estímulos e estratégias, como, por exemplo, texto, exposição oral, imagens gráficas, animações, áudio, vídeo, modelos tridimensionais e simulações virtuais. Os alunos tiveram também a oportunidade de confeccionar painéis – registrando ideias (o que sabemos? o que queremos aprender? o que aprendemos? como nós aprendemos?) – storyboards, fazer registro em fotos, construir modelos e tabelas, gravar entrevistas e planejar apresentações cinestésicas (performances).

No passado, a maioria dos estudos de imagem neural de processos sociais se limitou a apresentar estímulos controlados para um indivíduo, geralmente em um ambiente de laboratório. Pesquisas como as da equipe de Cunnington mostram agora múltiplos cérebros interagindo e apontam métodos para quantificar a vida social em curso. Em diferentes níveis de análise, do microscópico mundo das células ao ecossistema caótico do movimento das pessoas, as pesquisas têm, na verdade, corroborado ideias de visionários antigos da educação como Lev Vigotski, John Dewey, Seymour Papert e Paulo Freire, que, muito antes de tomarem qualquer conhecimento sobre neurônios-espelho ou poderem registrar dados biométricos em suas investigações, afirmaram que o jeito mais elegante e eficaz de aprender é or meio das interações sociais.  [/vc_column_text][vc_empty_space][/vc_column][/vc_row]